terça-feira, 5 de julho de 2011

Motivação

  Essa semana recebi um e-mail muito agradável. O último relatório da Caroline Nau, que está na Alemanha, e uma introdução de um livro com as tradições de intercâmbio dela. Achei bem interessante, emocionante e inspirador, por isso vou postar aqui pra vocês. O texto é muito bom e me faz querer continuar escrevendo nesse blog... Muita gente diz que vou acabar largando pois não vou ter mais tempo, espero que estejam errados.


  "Nós, brasileiros do distrito 1870 criamos uma ligação muito forte de amizade, e temos um carinho muito forte pelos brasileiros que chegaram seis meses depois de nós, e por isso, tivemos a ideia de fazer um livro com todas as nossas tradições (por exemplo: fazer uma pirâmide humana na frente da Torre Eiffel e bater uma foto, etc), com dicas de como se dar bem no intercambio, lugares para visitar, coisas para fazer, enfim, um guia. Ele não está pronto, mas eu comecei a escrevê-lo e quero compartilhar com vocês a introdução do livro. Depois de ler alguns blogs, ver alguns vídeos e pensar como foi meu ano, comecei a escrever a introdução. Ser intercambista é ser amigo antes de qualquer coisa, é muito triste termos que nos separar agora. “Quem diz que a infância é a melhor fase da vida, é porque nunca foi intercambista um dia” – frase conhecida por todos os intercambistas de todo o mundo. Bem, então aí vai:

INTRODUÇÃO

    Primeira noite, cama estranha, país errado, mente confusa.  Começou. Warum bist du nach Deutschland gekommen? Para aprender alemão, para conhecer a cultura e para viver como um cidadão europeu. Realmente, mas agora sabemos que o intercâmbio vai muito, mas muito além disso.  É o clima que está no ar, é exatamente aquele momento daquele dia naquela cidade. É a foto. É o ticket do trem, são os pins que penduramos no blazer, é a piada, é a ansiedade, é o fuso horário, é o sotaque, é a decepção ou é mais do que você esperava. O intercâmbio é a chuva, o sol, a neblina, o vento, o frio e o calor.  O intercâmbio não é só a troca e mistura de culturas, não é só conhecer pessoas de vários países, é em um primeiro olhar saber que aquelas pessoas são sua família, e que se você, por um momentinho se quer, pensar em perdê-las, percebe o enorme valor que elas já tem em sua vida. É a forte ligação e amizade com a pessoa que não tem sua idade, que talvez não fala sua língua, que não estuda na sua classe. É em um abraço que você sente o intercambio, são as novas formações de opiniões, é a juventude.

“Was wir alleine nicht schaffen 
Das schaffen wir dann zusammen
Dazu brauchen wir keinerlei Waffen
Unsere Waffe nennt sich unser Verstand
Und was wir alleine nicht schaffen
Das schaffen wir dann zusammen
Nur wir müssen geduldig sein
Dann dauert das nicht mehr lang“                         
Música ‘Was wir alleine nicht schaffen‘ de Xavier Naidoo

  A essência do intercâmbio, assim como quase tudo na vida, são as pessoas. Você tem que guiar sua vida, saber valorizar os momentos e fazer as decisões certas, porque a partir do momento em que finalmente acordar no outro dia e caminhar pela nova casa, perceberá que a única pessoa que estará ao seu lado será você mesmo.
   Agora, se você quiser saber em 60 segundos, o que fazer no seu intercambio, pode cronometrar, nós diríamos: chore por saudade, chore por querer voltar, chore por não querer voltar, chore por amor, chore pela amizade, não chore, ria, gargalhe, fique doente, melhore, observe, escute, preste muita atenção, não preste nenhuma atenção, se interesse, não tolere certas atitudes, “engula alguns sapos”, ande de trem sem pagar, não seja pego pelo cobrador, tá bom - seja pego pelo cobrador uma vez, perca o trem, tenha como maior orgulho ser brasileiro, coma muito, compre Döner, Wurst, Kinderschokolade e suco de maçã sempre, leia o Guia do Intercambista, entre na moda europeia, lance a moda brasileira, odeie ser obrigado a assistir aos filmes dublados e sem pipoca salgada para acompanhar, compre Guaraná assim que encontrar, fale português com todo mundo na rua, se empenhe para aprender alemão, pense positivo, conviva com as diferenças, congele no inverno, faça guerrinha de neve, tome banho de chuva, se adapte. Isso, adaptação, o tempo voa e leva ela junto, so don’t worry, be happy, be an Exchange Student!
   Por mais estranho que pareça, é dividindo um quarto com mais sete pessoas numa viagem, que você aprende a conviver consigo mesmo. Ser intercambista é aprender que você não precisa de mais ninguém para fazer o que tiver em mente e que os momentos inesquecíveis também podem ser compartilhados apenas com você e a sua câmera fotográfica. Ser intercambista é querer sair de casa e levar o mundo na mochila. Mais intercambista ainda é aquele que abre essa mochila e coloca dentro dela uma garrafa de água, o celular, uma nota de cinco euros, um pacote de HARIBO e a responsabilidade e sai de casa. Pois é, temos que realmente levar um bom peso nas costas, mas isso faz parte do nosso crescimento, isso se chama liberdade, isso é INTERCÂMBIO.
  Começar tudo do zero, conquistar a confiança de várias famílias, aprender alemão, quanta responsabilidade! Keine Sorge, alles wird gut! Ficamos desapontados, arrependidos, desesperados e tristes; sofremos, erramos, temos medo, raiva e tédio, mas temos alma sadia e um sorriso no rosto; a diversão é o que nunca nos faltará; a curiosidade está em nossos olhos, os amigos no coração e a liberdade nos pés. Tudo isso, quando se é um intercambista, se transforma em aprendizado.  Morremos de saudade, mas ao mesmo tempo, esquecemos que temos saudade, descobrimos que não precisamos agradar a todos e que nem todos precisam nos agradar, que não temos resposta para tudo e nem tudo tem resposta, que não existe o melhor nem o pior, e sim o diferente. Finalmente entendemos que quanto mais aprendemos, mais temos que aprender e que o nosso coração é tão grande, que cabem todas as pessoas do mundo nele.
   É em quase um ano que crescemos dois, é em quase um ano que descobrimos nossos verdadeiros interesses, é nesse tempo que aprendemos realmente a dar valor às pessoas, e quais pessoas. É nesse quase-um-ano que percebemos o que a vida quer, o que futuro exige, o que a as pessoas merecem, o que o mundo precisa,  quais momentos merecem replay e quais devem ser esquecidos. Formamos opiniões, temos a nossa tão sonhada liberdade, criamos ideias, realizamos essas ideias, e sem querer, sem perceber, sem nem mesmo poder impedir, entramos em um sonho, o qual só acordaremos quando o avião pousar em terras brasileiras.
   O último papel do intercambista é entender que existem leis na vida e que uma delas é que tudo acaba. Tudo, sempre, acaba.

Mudaram as estações, nada mudou,
mas eu sei que alguma coIsa aconteceu, tá tudo assim,
tão difereNte. Se lembra quando a gente,
chegou um dia a acrediTar, que tudo era pra sempre,
sem saber, quE o pra sempre, sempre acaba.
Mas nada vai conseguiR mudar, o que fiCou,
quAndo penso em alguéM,
só penso em você, e aí, então, estamos Bem.
Mesmo com tantos motIvos
pra deixar tudo como eS
Nem desistir, nem tentar, agora tanTo faz...
Estamos indo de voltA pra casa.
                                                                                                                                                                                                                                                                               Música Por Enquanto de Cássia Eller

Por Caroline Nau, Intercambiária na Alemanha 2010 - 2011